sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Reflexões


O que um antropólogo realmente quer?
Quer desvendar os segredos de outra cultura?
Quer estudar e conhecer muito bem outras culturas a fim de facilitar a dominação?
Quer viver e conhecer outra cultura porque não suporta a superficialidade das relações que despendem do modo de produção em que vivem?
Quer viver e conviver com outra cultura para trocar saberes e aprender compreender melhor o mundo e as coisas à sua volta?
È o tradutor da cultura alheia para sua própria?
Na verdade o que o antropólogo quer é desenvolver seu trabalho de branco que vive numa fronteira cultural sempre entre a sua cultura e a outra. É uma profissão plural. Faz-se necessário ser muitos ao mesmo tempo. Todo ser humano é assim: mutável, muitos em um só. O antropólogo não foge à regra e tem essa pluralidade como profissão.
Poderia eu comparar o antropólogo ao ator?
O ator também precisa ser muitos em um só.
O ator representa, o antropólogo também: participativamente.
O ator finge, chora e ri, o antropólogo dissimula.
O ator tem o palco, o antropólogo o campo.
O ator tem a iluminação, o antropólogo as variações do tempo.
O ator tem público, o antropólogo também: ouvintes e leitores.
Podemos então concluir que o antropólogo na verdade é um ator que desenha e desdenha com alto grau de destreza sua máscara social, de tal forma que se adapta bem às novas peças/dramas que serão vividos.
O ser humano é ator.
O antropólogo é ser humano.
O antropólogo é ator.
E como ator basta-lhe, para que interprete o que está sendo vivido em todos os seus âmbitos rituais e organizacionais.
Na verdade o antropólogo é um contador de histórias.
Por fim,
arte e antropologia não compõem caixas separadas
Complementam-se em lirismos e histórias.

2 comentários:

  1. Olá Taiana,
    Atuo como professor, dep. de Psicologia da Univ. Fed. do Ceará.
    Estou escrevendo com duas outras pessoas (Mary Jane Spink e Benedito Medrado), um texto sobre diário de campo e lá pelas tantas falo sobre a etnografia como prosa. Buscando textos sobre isso encontrei o seu Blog. Poderia me informar sobre essa associação entre etnografia e prosa que vc também usa? De onde vem? Por que vc usa? Parabéns pelo blog. Até mais, Ricardo
    ricardopimentelmello@uol.com.br

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    1. Olá Ricardo,

      Vi hoje seu recado em meu blog. Espero não ter demorado muito pata respondê-lo.
      Bom, esse blog nasceu com o intuito de criar uma narrativa de diário de campo não preocupada com o rigor e formalismo acadêmico, mas numa vontade de repensar o próprio texto e a relação entre o antropólogo (vivente), o pesquisado e o leitor/ expectador.

      Depois das minhas primeiras viagens de campo, percebi que o material de relatos que eu tinha em mãos era muito grande e que para o formalismo da academia pouco se aproveitava. Então resolvi criar um espaço na internet onde eu pudesse refletir de forma ampla e despretensiosa sobre os lirismos advindos da minha experiência com o outro.

      O delongado debate sobre o cientificismo da antropologia e o não-cientificismo da arte me levaram a buscar um espaço de reflexão que me proporcionasse uma etnografia em prosa. Se a antropologia busca compreender o outro (num exercício de compreensão de si mesmo) e a arte é a expressão da subjetividade do outro - esse artista/ criador, fica claro para mim que são amplitudes humanas que se complementam. Assim sendo, comecei a pensar uma etnografia enquanto uma narrativa performática capaz de seduzir o leitor e criar grandes epopéias

      Para além comecei a pensar seriamente na questão da pesquisa-ação (ver o Carlos Rodrigues Brandão) e na questão da interferência do pesquisador com os pesquisados e me dei conta de por que não interferir artísticamente? Ou refletir sobre um grupo a partir dos pensamentos poéticos e imagens diversas que o pesquisador cria durante sua experiência em campo. Mas seria isso válido na academia?

      Pensar uma etnografia em prosa, vai de encontro à dar espaço às subjetividades do pesquisador numa disciplina que se dedica a exercitar o pensamento e a compreensão do outro e sua cultura. Não é possível criar narrativas sobre o outro sem situar de onde vem o narrador. E esse "de onde vem" não se refere apenas ao espaço, mas também às suas fronteiras internas morais, sociais,poéticas e espaciais.
      O pesquisador sempre vai ser um estrangeiro passageiro, sua experiência traz desdobramentos políticos no mundo ocidental mas é sempre apenas uma pequena fresta da janela. Ousar abrir a janela com uma narrativa que se mescla entre o interno e o externo, o real e o imaginário. Não é literatura, é etnografia em prosa.

      Etnografia em prosa, por fim, é o exercício escrito, poético e político de lidar com os risos e agruras de um outro rio tão caudaloso quanto si mesmo numa narrativa lúcida sobre as relações de poder entre pesquisador e pesquisado, tudo isso performado para um leitor.

      Acho que é isso.

      Espero tê-lo respondido.

      Atenciosamente,

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